Uma das conquistas do cinema sonoro foi a descoberta do silêncio _ o silêncio de quando se espera ou se imagina uma coisa.
No tempo do silencioso, ignorava-se o silêncio: havia sempre nas salas de projeção o pano de boca da orquestrinha, como hoje o pano do fundo musical.
Me ocorre tudo isso ao ver Frenesi, o último filme do Mestre Hitchcok, que, Deus o abençoe,não criou mofo com a velhice.
Há, neste filme, uma esquina terrivelmente silenciosa sem ninguém. E uma escada deserta por onde sente-se que o silêncio vai subindo. Um truque de objetiva , sim, mas pura magia do mestre.
Alias,o silêncio é que torna tão impressionante - tão de outro mundo _ uma rua numa tela. Que torna tão encantadora as crianças daquelas cenas familiares pintadas pelo velho Renoir. E mesmo lendo-se um romance, ouvindo-se um drama _nós o fazemos em um silêncio de almas desencarnadas ,isto é, quando nos vemos livres de nós mesmos.Esse é o milagre da arte.
E, diante disto, bem se poderia dizer que toda arte é feita de silêncio.
Antes era a ponta do pé, nos primeiros tempo do romantismo, depois os braços, de que o velho Machado não tirava os olhos.Agora, que está tudo à mostra, ninguém nota.O mesmo se dá com a literatura, onde tudo se nomeia e nada se diz.
E como imaginação é que excita e, faltando ela, tudo falta, veio o pulo, o barulho, o berro, para substituir a dança, a música, o canto.
Em todo caso, é de esperar que não se esteja regredindo.
Apenas uma pausa.
Talvez uma necessária sonoterapia na arte de sentir e de expressar-se.
Essa semana,que acaba hoje,estudei com a minha princesa Rafaella a também "Semana de Arte Moderna".E ela achou o maior barato quando chegamos à Vanguarda Europeia e surgiram os vários "ismos": "achismos", Futurismo, Expressionismo,Cubismo...Surrealismo...
Mas quando ela bateu os olhinhos no "Dadaísmo"...ela logo me disse :"Poxa, escreve sobre isso no seu blog"."É muito engraçado,e fácil né, fazer um poema ou escrever um texto implicando com os outros e ainda pegando as coisas dosoutros".
Coisas de criança... esperta. E também como nada é por acaso,(lamentavelmente) resolvi trazer para os amigos que passam por aqui um pouquinho sobre o assunto.
Em 1916, em plena guerra, quando tudo fazia supor uma vitória alemã, um grupo de refugiados em Zurique, na Suíça, inicia o mais radical movimento da vanguarda europeia: o Dadaísmo .
A própria palavra "dadá", escolhida (segundo eles ao acaso) para batizar o movimento não significa "nada".
Negando o passado, o presente e o futuro,o Dadaísmo é a total falta de perspectiva diante da guerra,daí ser contra teorias, as ordenações lógicas, pouco se importando com o leitor.
Aliás, é também contra os manifestos, como afirma um de seus iniciadores, Tristan Tzara (1896- 1963), em seu "Manifesto Dadá" 1918 :
"Eu escrevo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e não sou por princípio contra os manifestos, como sou também contra os princípios".
Loucura esse Dadaísmo, eu quem digo. Piração total.Mas para o "movimento" o importante era criar palavras pela sonoridade, quebrando as barreiras do significado; importante era o grito, o urro contra o capitalismo burguês e o mundo em guerra - a propósito, no prefácio à Paulicéia Desvairada, Mário de Andrade assim se manifesta sobre a leitura da poesia "Ode ao Burguês": "Quem não souber urrar não leia "Ode ao Burguês".
"Falei" tanto e só no final é que vem o mote do meu post, o mais bizarro sobre esse movimento. E é quando Czara dá as regras,o caminho das pedras para se fazer um poema Dadaísta.
Como fazer um poema Dadaísta
Pegue um jornal (eurekaaa)
Pegue a tesoura
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente
Tire em seguida cada pedaço um após o outro
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. :)
(CZARA, Tristan. In: Teles Gilberto Mendonça,
Vanguarda Europeia Modernismo Brasileiro, Rio de Janeiro, Vozes, 1972).
Para acompanhar esse post, meio dadaísta,deixo o Grande Celso Fonseca,
Recadinho:
Dei um pequeno "intervalo" nas minhas prometidas publicações sobre "Setembro com Quintana".
Na segunda, Quintana estará de volta.
Um beijo ♥ Bom Domingo ! :):) Lau
+ Post da série os papéis que temos de fazer nesse mundo digital.
Imagem do site " Eu Amo Música"
Fonte sobre A Semana da Arte Moderna: Literatura Brasileira de José Nicola, página 178 -Editora Scipione.
Muita vez(linguagem de Quintana) me entretenho em reconstruir de memória a nossa antiga casa paterna. Deixo-me estar no caramanchão,com sua mesa de pedra apanhando o sol coado pelas trepadeiras.
Quanto aos longos dos corredores, será melhor que os evoque de noite,quando, no escuro do quarto, fico a imaginar que a noite de agora está cobrindo ainda a velha casa.
Sim! nesta época de grandes transformações arquitetônicas, a nossa alma teimosa continua morando nessas casas fantasmas.
Reconstruíram-se a cidade antiga, mas esqueceram-se de reconstruir as nossas almas. Daí,a instabilidade contemporânea.
Porque não somos contemporâneos de nós mesmos. Porque, hoje, só podemos dizer com saudade aquele belo verso de Saint-Beuve:
"Naître, vivre et mourir dans la même maison..."
P.S. Este verso, é a segunda vez que cito neste livro.
Mas não há motivo para pedir desculpas. Muito pelo contrário.
( Mario Quintana,(link)do signo de Leão,em "A Vaca e o Hipogrifo").
Para acompanhar o francês de Drummond, deixo Carla Bruni:(link) A letra da canção é dela, da Carla Bruni.
E deixo, também, o Tatu :) ,o mascote da Copa do Mundo,
que será no meu Brasil varonil em 2014.
Quintana adoraria conhecê-lo, tenho certeza.
Uma pequena ,se é que se possa assim adjetivar... sinopse ...do livro.
Antonio Carlos Secchin é quem assina o prefácio "Quintana: a desmontagem do mundo",e explica quem/que é o hipogrifo. Um animal mitológico misto de água, leão e cavalo. Mas que diacho significa uma vaca? Na visão de Quintana, trata-se de um bicho que voa lentamente, porque gosta de apreciar a paisagem e tudo com calma. Como a poesia de Quintana, que jamais é afobada.
Décimo quarto livro do autor, A Vaca e o Hipogrifo, cuja primeira edição remonta de 1977, se constitui numa excelente amostragem do estilo enganosamente "fácil" do poeta Quintana.
Secchin acrescenta que o tom de Quintana é informal. As palavras provêm do registro do cotidiano, e a predominância da prosa sobre o verso passa mais ainda essa descontraída interlocução com o leitor.
E mais : mesmo sob esses elementos, que passam uma prática ingênua da criação literária, existe um discreto experimentador de formas , (um gênio esse Quintana, eu quem digo) tanto mais vigoroso quanto menos explícito.
"Se alguém acha que estás escrevendo muito bem, desconfia ...O crime perfeito não deixa vestígios". Dessa eu gostei...:))
Imagem: Lucerner, Suíça, e com direitos autorais.É minha.
Fonte : Livro "A Vaca e o Hipogrifo". Texto retirado-ipsis litteris- da página 270 .
*...Não tenho tempo para mais nada, ser feliz me consome muito.
*O bom é ser inteligente e não entender.(Se é...)É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice.
*(...) A felicidade aparece para aqueles que choram.Para aqueles que se machucam.Para aqueles que buscam e tentam sempre.E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas...
*Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria.
*Ajo como o que se chama de pessoa realizada. (E sou.)
*Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.
*Liberdade? É meu último refúgio, forcei-me à liberdade e aguento-a não como um dom...mas com heroísmo: sou heroicamente livre.
(Excertos sequestrados de obras de Clarice Lispector, e com ligeeeeeeeiras adaptações)
Lau Milesi
Para acompanhar a Grande Clarice, a Lispector, deixoMarisa Monte.(link com tudo sobre Marisa)
Um beijo para os amigos que passam por aqui.
Uma semana produtiva.
Bye...
Lau
Imagem: Pixdaus - "Princess Bride" . Nessesite, encontra-se mais sobre a Grande e "tímida" Clarice Lispector .
Fonte: Excertos sequestrados do livro A Hora da Estrela, e de outras obras de Clarice divulgadas na Web.
Meu post foi inspirado na newsletter que recebo da Casa do Saber, viu anônimo (a) (visitante) indelicado (a) e covarde?!!!!!!!
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Agora conteúdo, o que gosto, o que aprecio :
Este curso apresenta uma visão dos contos de Clarice Lispector tomados de seus livros “Laços de família” e “A legião estrangeira”, escritos entremeadamente e publicados no início dos anos 1960 e os romances “A paixão segundo G.H.” e “A hora da estrela”. O programa abordará os contos em contraponto aos romances, analisará o lugar e o não lugar da mulher na obra de Clarice e, também, se é possível falar em uma escritura feminina.
4 encontros | segundas-feiras, das 20h às 22h
17/9. “Laços de família”
24/9. “A legião estrangeira”
1/10. “A paixão segundo G.H.”
8/10. “A hora da estrela”
Quando: 17/9 a 8/10
Onde: Casa do Saber Jardins / Mario Ferraz
Quanto: R$ 260 na inscrição + 1 parcela de R$ 260
Infelizmente esses encontros acontecerão na Casa do Saber de SP e não poderei comparecer. Mas esse"aqui"quero fazer e recomendo a quem mora no Rio.
*José Miguel Wisnik é compositor,professor de literatura brasileira na USP e ensaísta. Publicou, entre outros, "Sem Receita – ensaios e canções” e "Veneno remédio – o futebol e o Brasil".
e a todos nós...que respeitamos a vida dos outros, do próximo.
É nisto que consiste
o existir:
insistir em ser feliz.
(Cecilia Segal)
Como a vida está,queiramos ou não, relacionada à morte,deixo hojeFreddie Mercury,da banda Queen,
que já virou estrelinha, luarizou-se como diria Quintana, e ontem completaria 66 anos.
Eu fui ao Rock in Rio de 85...
Brasil..., sil ... sil ... ♪♪♪
* E para não passar em branco o Dia Sete de Setembro, dia da nossa Independência, deixo esse site que traz um poema hilário, de Murilo Mendes, "A Pescaria",que conta peripécias de D.Pedro às margens do Ipiranga.
Um beijo para os meus amigos e um bom feriado!
Até...
Lau
Imagem: Parade/Web
Fonte: Convite à Vida, de Cecilia Segal, faz parte da coletânea de poemas do Livro Agora- Poesia Crônica& Conto, página 21- realização de Cairo Trindade
"Minha brisa Solano e meu Sol Elio" (Quando você diz que vai chegar às 11, às 10 nós já estamos sorrindo) (Saint- Exupéry)
E "smiles" e "smiles"... pra mim.
Hoje li em algum lugar que um cubo de granito com uns trinta centímetros de aresta pesa cerca de cem quilos, e que um metro de muro com um metro de altura requer mais ou menos uma tonelada de granito.Vivemos com muros e muros de granito circundando o nosso mundo real , a nossa selva de pedra. Traduzindo:somos rodeados por toneladas de granito nos protegendo. Isto no mundo real. E nem sempre estamos protegidos, alguns dirão. No que concordo. Imaginem no mundo virtual . É...aqui, o nosso mundo é tão vulnerável. E não temos esses muros e muros de granito.Como somos vulneráveis!!! Ao olhar para esse anjos,e ao receber esses sorrisos, fico imaginando como seria "o mundo" sem a presença desses pequenos príncipes. E falar em Pequeno Príncipe nos lembra logo Saint Exupéry,que em sua bela obra nos mostra uma profunda mudança de valores,sendo que é essa mudança que nos remete aos equívocos nas avaliações e julgamentos que fazemos. Com a corrida do dia a dia, com as preocupações de adultos -muitos bizarros, como diz o Pequeno Príncipe, esquecemos a criança que um dia fomos...
Selecionei umas pérolas citadas por Saint Exupéry em seu livro o Pequeno Príncipe que, na minha opinião,devem /deveriam mexem bastante com a cabeça de alguns adultos. -"Apesar da vida humana não ter preço, agimos sempre como se certas coisas superassem o valor da vida humana".
- “Os homens não têm tempo, compram tudo pronto.Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos”.
-Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: “Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?” Mas perguntam: “Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?” Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: “Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado…”elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma ideia da casa. É preciso dizer-lhes: “Vi uma casa de seiscentos contos”. Então elas exclamam: “Que beleza!” -
-“É preciso enfrentar algumas larvas se quiser conhecer as borboletas".
-“Tomara a sério palavras sem importância, e se tornara infeliz".
- "Só conheço uma liberdade, e essa é a liberdade do pensamento".
( Excertos do Pequeno Príncipe- Saint Exupèry)
-------------- Já no livro O Retorno do Jovem Príncipe, o autor diz:
— Parece que nós precisamos de um monte de coisas para sermos felizes — disse o Jovem Príncipe. — Na verdade, não precisamos — contrapus rapidamente. — A felicidade é oriunda do ser e não do ter; de apreciarmos o que já possuímos, não de tentarmos conseguir o que não temos. Muitas vezes, o que não temos pode ser uma fonte de felicidade, pois permite que outros indivíduos complementem nossas posses. Se fôssemos tão perfeitos a ponto de ter tudo, como poderíamos nos relacionar com os outros? Alguém disse uma vez que não é nossa força que nos aquece durante a noite; é nossa ternura que faz com que outras pessoas queiram nos proteger. ( Excerto do O Retorno do Jovem Principe, de Alejandro Guillermo Roemmers ).
L.M. Como a Primavera já está perto-mesmo não sendo a minha estação preferida,deixo esta canção,"Sol de Primavera",com aBanda Catedral (link).E no jeitinho dos meus príncipes, dos meus anjos. * De Sol eu gosto.
Recadinho
Um beijo para os meus amigos que passam por aqui e desculpem o post enooooorme. Mas lá vou eu ser repetitiva : sou insistente, não quero e nem vou abandonar o blog...mas não tenho tido tempo para alimentá-lo como no passado. Ele, " o tempo". Sempre o eterno "tempo". O que vem...e vai...Quando sobra um pouquinho tenho que fazer uso desse tempinho.E foi o que fiz: extrapolei nos caracteres.:) Sorry.
Os aquis: :) Fontes: Pequeno Príncipe, de Saint Exupèry . O Retorno do Jovem Príncipe, de Alejandro Guillermo Roemmers.(nesse link pode-se ver o booktrailler) . Sol de Primavera, de autoria de Ronaldo Bastos(link) e Beto Guedes.(link) *Alejandro Guillermo Roemmers, nasceu em Buenos Aires em 1958 e começou a escrever ainda menino. Sua poesia foi objeto de numerosas publicações e honrarias. como informa o site acima.
Imagens captadas por mim e com direitos autorais. Geng.exposta,olha o brinco. Observe o ano. É ou não é ? Q vergonha!!