O pardal pousou na janela e ficou espiando o interior do quarto, onde havia muitos livros.
O homem, debruçado sobre a mesa, não percebeu a chegada do pardal.Ao olhar distraidamente na direção da janela, viu o pássaro imóvel e observador.
O homem não se alterou. Prosseguiu no trabalho, que era o de tirar coisas invisíveis da cabeça e colocá-las no papel.
O pardal prestava atenção ao movimento do braço e da cabeça, que às vezes havia um sinal afirmativo, outras negativo. Também reparou que os lábios dele ora se contraíam ora esboçavam um sorriso.
Nisto passou bem meia hora.O pardal não tinha pressa,e o homem continuava na sua operação.
De repente, o homem pegou do papel onde botava as coisas invisíveis que tirava do cérebro e, com um gesto brusco, fez dele uma bola e atirou-a ao chão.
_ Diabo desse pardal que não me deixa escrever o que eu quero!_ exclamou.
_Eu estava achando lindo a brincadeira desse homem, e ele me assustou _queixou-se o pardal, batendo em retirada.
(Carlos Drummond de Andrade, o Grande)
Disclaimer
Disclaimer
Para Carlos Drummond de Andrade, em Contos Plausíveis, a rima não é
mais a solução, nem o humor autodefesa. No âmbito do seu fabular,o autor dá voz aos
bichos,que, muitas vezes,dizem mais do que muitos "ditos humanos".
No ritmo dos pássaros,o sonzinho dessa segunda-feira tá aqui. :))
Um beijo para os meus amigos que me leem
Boa semana
Até...
Lau
No ritmo dos pássaros,o sonzinho dessa segunda-feira tá aqui. :))
Um beijo para os meus amigos que me leem
Boa semana
Até...
Lau
Fonte: Carlos Drummond de Andrade in Contos Plausíveis, página 125-Editora Record
Imagem(com licença poética): "Manual Focus needed", by Pixdaus.