Monday, November 3, 2014

Série Contos de Drummond: "Alma Perdida"


Sigefredo botou anúncio classificado, dizendo que perdera sua alma, com promessa de gratificar quem a encontrasse. Não explicou - nem podia - como a tinha perdido.

Apareceram algumas pessoas trazendo pacotes com almas, e nenhuma era a dele. Não se ajustavam a seu corpo, e mesmo que ele quisesse fazer experiência, era evidente que não combinavam com o jeito de Sigefredo. E ele era muito ocupado. Não tinha tempo a perder.

Já se resignara a viver mesmo sem alma, quando uma noite encontrou a desaparecida, à porta de um bar, com aparência de pobreza, mas tranquila.

Seu primeiro impulso foi recolhê-la, mas pensando melhor achou que não valia a pena. A alma de Sigefredo também não manifestou interesse em voltar para ele. Dir-se-ia que aprendera a viver por conta própria, e mesmo naquele estado era independente.

Sigefredo passou por sua alma sem cumprimentá-la, entrou no bar e pediu o drink habitual. Ao sair, viu a alma, a pequena distância, dar alguns passos e saírem dos ombros duas asas, com que ela se alteou, voando para a Zona Norte.

(Carlos Drummond de Andrade,o Grande)  (link)




                                                               Disclaimer


Por que não darmos graças a Deus por nos ter dado Carlos Drummond de Andrade? Perguntou Gilberto Freire. Me junto a Freire e agradeço a Deus por nos ter dado o poeta considerado um dos maiores representantes da literatura brasileira do século XX . Drummond,através de suas belas obras,nos passa uma visão especial de mundo.

 ..."sou autor confesso de certo poema,insignificante em si, mas que a partir de 1928 vem escandalizando meu tempo,e serve para dividir no Brasil as pessoas em duas categorias mentais", declarou o  poeta, referindo-se ao tão conhecido poema "No meio do caminho",o mesmo que provocou furor no meio literário.Viva Drummond com sua inteligência, seu humor,sua rebeldia e sua carreira poética.Viva!! 


Obrigada aos amigos que me leem.
Boa semana!
Lau









Imagem capturada na Web
Fonte: Contos Plausíveis, página 33. Editora Record-Carlos Drummond de Andrade.