Wednesday, February 10, 2010

"Recordar é viver...traumas infantis".


Quando escutei há poucos minutos de um repórter que faltam três dias para o Carnaval, viajei no tempo. E fui parar num certo Carnaval em que me (?) fantasiei de " holandesa". Eu não sei o que deu na minha mãe. Eu não tinha traço algum de holandesa e ela quis me transformar em uma. Me senti tão mal com aqueles tamancos holandeses que me impediam de andar... Sem contar o chapéu, que me obrigava a fazer verdadeiras acrobacias para que ele ficasse no devido lugar.Não aproveitei nadica de nada o baile infantil do clube do meu bairro.Foi um momento bem sofrido.

Em setembro do ano passado, quando estive na Holanda, resisti bravamente a ser fotografada dentro dos tamancos holandeses ,que são atração turística em Amsterdam. E nem preciso dizer o motivo. Mas acabei por ceder. Afinal, a intransigência não nos leva à nada. Dizem.

Com o calor que está fazendo no Rio de Janeiro, o jeito é beber muito líquido. Não há como fugir disso. E foi justamente bebendo um suco, que me veio à memória mais um dos meus "vários" traumas de infância.

Hoje, ao pedir um...de manga, ouvi do simpático atendente:"
a manga é no leite"? Essa frase ecoou na minha cabeça e, por uns instantes, fiquei imóvel. Mas logo em seguida acabei por responder toda animada: "sim, é com leite". Falei e olhei para os lados como se estivesse cometendo um ato de coragem extrema. Tudo isso porque lembrei dos singelos e sofridos momentos que vivi com minha querida avó materna que pregava o perigo do leite ... com manga. Matava, segundo ela.

Relembrei a imagem de minha
vovozinha em seus dias "hitlerianos", com um baita copo de leite à minha frente acompanhado de um carinhoso e animador alerta: "se você chupou manga, não tome esse leite que você pode ficar com os olhos revirados, toda torta, e até morrer". Eu entrava em pânico e rejeitava o leite. Até que um dia resolvi testar esse poderoso veneno em frente ao espelho e nada aconteceu.

Outros sofridos momentos foram com aqueles famosos sapatinhos-boneca. Aliás, eles voltaram à moda há pouco tempo. Minha mãe adorava me ver com os tais sapatinhos. E não sei se por defeito de fábrica... ou dos meus pés, todas eles saíam do meu calcanhar. E a cena, dá para imaginar, era de uma menina claudicando, num esforço sobre- humano para fazer de seu próprio dedinho uma salvação para o seus calcanhares.

Uma outra tortura era ir à praia e não poder beber qualquer coisa. Meus pais criaram uma lenda de que suco de praia era feito de água suja coada e que as pessoas ficavam doentes, íam para o hospital e tomavam injeções enooormes. Confesso que nessas horas ficava tentada a tomar um suco de "água suja" só para não ir à aula de "Desenho" que tanto odiava.

Taí um outro trauma de infância que tenho. Toda vez que fazia um desenho vinha acompanhado de uma enquete na família. Nunca decifravam meus desenhos. A coisa era tão feia... ou séria que, já adulta, fui parar numa "oficina de arte" para tentar fazer um famoso boneco que levava uma mochila nas costas. Esse era o meu sonho de consumo. E acabei realizando esse sonho.

E falando em sonho, toda menina sonha em ter um namoradinho. Isso é inegável. E é comum a primeira atração ser por um primo. Eu não fui diferente.Também tive meu primo
"Keanu Reeves" . E foi na casa desse primo, que mostrei minhas habilidades em física (não quântica), ao degustar a sobremesa: um caseiro pêssego em caldas .

Não sei o que houve.Minha colher promoveu uma alavanca e o tal pêssego foi cair na "terrina" de uma sopa que minha tia mineira havia oferecido no almoço. Foi um sufoco. Até que o danado do pêssego se afogasse, passei meus piores momentos . Meu pai, meu amigão, acompanhou todo o processo de afogamento e sempre relembrava esse triste e tenso episódio.

Esse trauma guardo até hoje. Tenho horror a pêssego com caroço.Hoje em dia, me preocupo e sempre observo os talheres indicados para esse tipo de sobremesa. O que não quero pra mim , não quero para os outros.

Um outro ... trauma, foi ter sido alfabetizada muito cedo por minha mãe.Para mostrar que ela era uma boa professora, em todas as festas da família, meu pai arranjava um jeito de me botar para ler folhas e folhas em homenagem aos aniversariantes. Muitas vezes eu decorava tu-di-nho, e a felicidade deles era imensa. A minha não, eu odiava esses discursos. Esse trauma me deixou sequelas, pois sou inimiga número um de discursos. De políticos então...nem pensar.

Resumindo, são situações muito desagradáveis . Mas que não me transformaram numa pessoa nociva à sociedade, nunca matei , nunca fugi de casa, nunca usei de identidades falsas para incomodar ninguém, mas que mexem com a cabeça da gente...mexem. Do contrário não estaria eu aqui fazendo uso do famoso clichê " recordar é viver"... traumas infantis, acrescentaria.

Bem, evidente que meus traumas "preferidos" não param por aqui. Se fosse listar todos...

Há quem diga que trauma infantil é como vizinho complicado. Quem não tem um?

Um beijo e obrigada por me "ouvirem" .

Lau



Outros traumas:

Beijar mão de padre (Odiava. Sempre tive a mente fértil)
Colégio Interno
Freiras (um fim de semana sem poder visitar a família por ser curiosa e querer espreitar a clausura das religiosas).
Boneca (que mantinha os olhos abertos deitada ou não)[rs]
Documentários sobre a História do Brasil
Sopa de ervilha
Fantasia de anjo
Estátua de Buda de costas.
Boneca Amiguinha
Vestido de bolinhas
Quermesses
Saia rodada
Baliza de banda (aquelas meninas que vão à frente das bandas)
Lenda da formiga sem cabeça.
etc...


Em tempo


Fiquem á vontade, podem escrever a lista de vocês. Faz um bem...[rs]
+ bj

Foto: by Pixdaus e W.B (tamanco) (direitos autorais reservados)