Sunday, July 12, 2009

O Inferno Astral e a Poesia




Partindo-se do princípio - lá vou eu dizer mais uma vez- que um blog é a nossa tribuna virtual, estou aqui para dizer que não sei o que é ... mas todos os anos quando estou à beira de completar mais um finalzinho de inverno, (rs) me vem cada uma ... Fico chorona, “chatinha” e muuuito sensível. Há quem diga que é o período popularmente chamado "Inferno Astral".

Existem algumas explicações para entender estes 30, 20 ou 12 dias temidos antes da inauguração de uma nova idade. O aniversário nada mais é do que o marco de um novo ciclo solar na vida de uma pessoa, ou seja, o Sol passa pelo mesmo ponto do Zodíaco que estava quando ela nasceu, sinalizando uma nova etapa para a sua consciência. Os dias que antecedem esta renovação são exatamente os últimos do ciclo anterior que a consciência vinha atravessando. Assim dizem os astrólogos.

Já deu pra notar que estou querendo dizer que faço aniversário esse mês. Eu adoro receber parabéns. Sempre fui assim . Desde criança . Fazer o que... Cada um... cada um ... como costumo dizer. Há quem jure que nesta época é comum esses “pitis”... como o que estou tendo esses dias.

Como disse no início do texto, ando muuuito sensível -me emocionei assistindo ao show dos 50 anos de carreira do Roberto Carlos, fico arrasada (e choro) só em pensar que a minha gringuinha volta pra casa dela em agosto... Ela tem sido uma companhia maravilhosa. Mas isso é assunto para um novo post.

A bem da verdade, mudei até de hábitos . Atualmente, dei para ler poesias diariamente. Tenho me interessado tanto... a ponto de ter " ingressado no mundo do crime" e passar a "assaltar" blogs de poetas e poetisas.rs

E ,hoje, resolvi compartilhar com vocês essa poesia de Adelia Prado- outra vítima do assalto e a quem muito admiro. Amo suas obras, principalmente, pelo aspecto lúdico que ela dá aos seus textos e poesias.

Espero que vocês gostem ...A BELA ADORMECIDA

Estou alegre e o motivo
beira secretamente à humilhação,
porque aos 50 anos
não posso mais fazer curso de dança,
escolher profissão,
aprender a nadar como se deve.
No entanto, não sei se é por causa das águas,
deste ar que desentoca do chão as formigas aladas,
ou se é por causa dele que volta
e põe tudo arcaico, como a matéria da alma,
se você vai ao pasto,
se você olha o céu,
aquelas frutinhas travosas,
aquela estrelinha nova,
sabe que nada mudou.
O pai está vivo e tosse,
a mãe pragueja sem raiva na cozinha.
Assim que escurecer vou namorar.
Que mundo ordenado e bom!
Namorar quem?
Minha alma nasceu desposada
com um marido invisível.
Quando ele fala roreja
quando ele vem eu sei,
porque as hastes se inclinam.
Eu fico tão atenta que adormeço
a cada ano mais.
Sob juramento lhes digo:
tenho 18 anos. Incompletos.

Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935. Nas palavras de Carlos Drummond de Andrade: "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis".
Imagem: Flickr (Compose and decompose) D+