"Elogio da Sombra"

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" a luz não tem sombra" (imagem com licença poética)

A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)

pode ser o tempo de nossa felicidade.

O animal está morto ou quase morto.

Restam o homem e sua alma.

Vivo entre formas luminosas e vagas

que ainda não são a treva.

Buenos Aires,

que dantes se espraiava em arrabaldes

rumo à planície sem fim,

voltou a ser a Recoleta,o Retiro.

Houve sempre na minha vida demasiadas coisas;

Demócrito de Abdera arrancou os olhos para pensar;

o tempo foi o meu Demócrito.

Tudo isto deveria amedrontar-me,

mas é uma doçura e um regresso.

Do Sul,do Leste,do Oeste,do Norte

convergem os caminhos que me trouxeram

ao meu secreto centro.

Esses caminhos foram ecos e passos,

dias e noites

a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,

os actos dos mortos,

o partilhado amor,as palavras,

Chego ao meu centro,

à minha álgebra 
e à minha chave.

Em breve saberei quem sou.

(Jorge Luis Borges in Elogio da Sombra)link
(excerto)
(Tradução de Fernando Pinto do Amaral)

(A todos que partem em busca do que lhes faltam...)


♫♫♫
(link)

Recadinho:

Obrigada à mais nova @miga que aqui chegou...e ancorou.
Seja bem-vinda!! 

Boa semana!
[lau]

Mais sobre Jorge Luis Borges,aqui.

Imagem: vista na página de um amigo no facebook,captada na Web.