Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas-de-pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
São voos de estátuas súbitas,
(excerto de "Futebol")
(Carlos Drummond de Andrade in Poesia Errante)
(link com news sobre Drummond)
" Disclaimer"
Sabe quando a gente se sente bem, sabendo que cumpriu uma missão com louvor?Pois é, assim me sinto ao chegar quase ao final de 2014 e, também, depois que passou todo o blá, blá, blá da Copa do Mundo, momento em que "os profetas do apocalipso" "urubuzavam" o nosso país. Me sinto realizada não só porque tudo deu certo e, principalmente,pela minha primeira obra-prima,meu primeiro poema:meu filho, meu primogênito. É dele essa foto, feita na sua última viagem a trabalho para a Jerusalém envolvendo assuntos "futebolísticos".
Desde a hora em que recebi a foto, me apaixonei por ela.Não sei explicar o motivo.Lembrei de Manoel de Barros quando dizia que imagens são palavras que nos faltaram, corri para meu eterno parceiro Drummond e peguei algumas palavrinhas de Humberto Miranda numa homenagem em que fez ao saudoso e querido poeta Manoel,quando de sua partida há 4 dias:
(...)"essa vida é besteira,chega e passa.E o mundo continua de ignorãças sãs,os estádios de futebol,por exemplo: são coisas de brincar.Como dizia Manoel,se a palavra falta, a gente cria a imagem de seu entendimento no jogo da sensibilidade.Hora de narrar o inenarrável.
Os meninos invadem o gramado, todos, imaginando o futebol como arte, traquinagem.
A bola voa pelo campo conduzidas por centenas de borboletas amarelas.Ponham a cor que quiserem.Para os meninos aprender a tanger centenas de borboletas é que cria a possibilidade de fazer o gol.
"Meninos são assim".Tangem borboletas para que a bola vá de asas à meta só porque vivem de sonhar.
Cabeceiam o vento porque viram o Pelé socar o ar...
Os meninos tangem as bolas para os lados das meninas. Tentam dar dribles como Garrincha.Perto delas amam bobinhos e começam a se amostrar.
Os mais atrevidos,matam no peito e experimentam a paixão; outros mais literários, proporcionam gol de letras, passes de primeira, chutes de efeito... tudo que também nem chegou a ser coisa ainda.
Não há zagueiros e nem volantes.Só atacantes e meias.A meia-lua é inteira,a grande área, pequena e a meta, imensa.
O campo imaginário fica localizado no campo imaginário que não é.
Nesse estádio, todos correm e a bola voa com as borboletas amarelas, sem aplacar.
Geraldinos e arquibaldos flutuam a cada expectativa de abraços,gol após gol.O que dizer quando abraços estão no ar?
Na vida,todos passam: os goleiros, os passarinhos...
Viva Drummond! Viva Manoel !!
L.M.
Uma boa semana para os amigos que me leem.
Lau
Aqui pode-se conhecer o Monte das Oliveiras,Jerusalém.
Imagem com direitos autorais
Texto (excertos) do blog de Juca Kfouri, by Humberto Miranda.
Fonte: Carlos Drummond Andrade in Poesia Errante.