Naquele país,os parlamentares funcionavam sem cabeça,e nem se davam conta disso.Os corpos moviam-se como se fossem dirigidos por uma central reflexiva e determinativa, no alto do pescoço, e tudo corria com normalidade- normalidade especial, não é preciso acrescentar.
Um dia, certo deputado reparou na falta de cabeça e sentiu-se constrangido. Já não fazia os gestos com a mesma perfeição, e experimentava o que se poderia chamar de dor de cabeça sem cabeça.
Convocou alguns colegas e mostrou-lhes que eles também precisavam recuperar o crânio perdido.Muita gente já observara o fenômeno e duvidava da legitimidade de representantes destituídos de parte do corpo tão importante como a cabeça.
Um dos colegas admitiu a lacuna de que padeciam todos, mas alvitrou que ela poderia ser corrigida com cabeças de papelão,que são mais leves.
_ Nada disso_falou o que tivera a iniciativa da recolocação _Temos de repor nossas cabeças verdadeiras.
Saíram à procura das ditas, e muitos não as encontraram.Outras tinham-se convertido espontaneamente em cabeças de alfinete.Umas tantas conservavam-se intactas e foram correndo instalar-se nos pescoços de seus donos.
Mas o Governo, prevenido daquele movimento, coçou a cabeça, meditou e decidiu:
_ Isso é que não. Para recolocar a cabeça no lugar, precisa autorização superior. E esta eu só dou lenta e gradualmente. Primeiro recoloque-se o "queixo". Mais tarde a boca. Depois o "nariz","olhos" etc. Mas só um olho de cada vez. E uma só "orelha" também. O "tampo" fica para o fim. Como correr dos dias vocês terão cabeças ótimas,até com ideias próprias.
(Carlos Drummond de Andrade, meu parceiro de fé)
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Disclaimer:
Manda quem pode,obedece quem tem cabeça. :)
Manda quem pode,obedece quem tem cabeça. :)
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Mais de Drummond:(link)
Tudo refloresceu. O filósosofo concluiu que não se deve plagiar a eternidade.