A coruja estava no forro do telhado, lendo Proust, quando entrou a andorinha, ofegante."Nossa, andorinha, que animação...", comentou a coruja, sem tirar os olhos do livro. "Ah, dona coruja! Tô voltando da minha primeira viagem pelo mundo! Eu cruzei a Amazônia e os desertos mexicanos, vi o sol se pôr atrás dos picos nevados dos Andes, fiz amor no céu vermelho da aurora, sobre o mar azul do Caribe!"
"Veja só", disse a coruja, passando saliva na pata e virando a página 987 do livro. "Em Manaus, você foi no teatro Amazonas, claro." "Não...", respondeu a andorinha, "mas eu voei com as araras e...". "Poxa vida", cortou a coruja, "Não foi no teatro Amazonas... E no México? No México, pelo menos, você visitou o museu de antropologia, né?". "Na verdade, não...", admitiu a andorinha, se encolhendo entre as asas. "Não visitou o museu de antropologia?! Desculpa, andorinha, mas você não-foi-pro-Mé-xi-co! Só falta me dizer que depois dos Andes cê não passou por Buenos Aires, pra tomar um chá com medialuna num daqueles lindos cafés europeus."
"Na-não", confessou a andorinha, com um fio de voz, então pediu licença e foi fazer seu ninho, angustiada,crente que quem sabia das coisas era a coruja, que seguia lendo Proust --agora, com um sorriso no rosto
Disclaimer
A fábula de hoje também é ri-quís-si-ma em metáforas.Tenho estudado metáforas com uma de minhas netas que faz teatro e está escrevendo um texto, uma minipeça.E, mais uma vez, constatei o valor delas (metáforas). Como elas nos "destravam" num texto, não é? Que recurso!! Vamos ver o que os meus amigos veem na fábula de hoje. Aguardando... :)
Para acompanhar a "coruja" e a "andorinha", trago hoje "Sonata de Vinteuil",numa homenagem a Marcel Proust em " No Caminho de Swann". Quem já leu deve ter gostado. Eu adorei!!!!
Um beijo para os amigos que me leem.
Obrigada.
Lau
Imagem com licença poética, via "tattoo tatuagem"
Imaginem a coruja no forro do telhado.
Os links estão em destaque.
