Thursday, November 10, 2016

"Milagres"


Imagem com licença poética: "Miracle"

Ora,quem acha que um milagre é alguma coisa de especial?  
Por mim, de nada sei que não sejam milagres: 
ou ande eu pelas ruas de Manhattan, 
ou erga a vista sobre os telhados 
na direcção do céu, 
ou pise com os pés descalços 
bem na franja das águas pela praia, 
ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo, 

ou à mesa tome assento para jantar com os outros, 
ou olhe os desconhecidos na carruagem 
de frente para mim, 
ou siga as abelhas atarefadas 
junto à colmeia antes do meio-dia de verão 
ou animais pastando na campina 
ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar, 
ou a maravilha de um pôr-de-sol 
ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes, 
ou o estranho contorno delicado e leve 
da lua nova na primavera, 
essas e outras coisas, uma e todas 
— para mim são milagres, 
umas ligadas às outras 
ainda que cada uma bem distinta 
e no seu próprio lugar. 

Cada momento de luz ou de treva 

é para mim um milagre, 
milagre cada polegada cúbica de espaço, 
cada metro quadrado da superfície da terra 
por milagre se estende, cada pé 
do interior está apinhado de milagres. 

O mar é para mim um milagre sem fim: 

os peixes nadando, as pedras, 
o movimento das ondas, 
os navios que vão com homens dentro 
— existirão milagres mais estranhos?

(Wall Whitmann in "Milagres")  



Disclaimer.
Em razão do resultado das eleições que  escolheram "Trump" como "triunfador" do pleito, selecionei hoje  Wall Whitmann, (link) que foi profundamente identificado com os ideais democráticos da nação americana. 



Para ser ouvido ao som de ♫♫♫




Recadinho  
 Temporariamente, o link dos comentários não será disponibilizado. 
Desculpem.
 Um beijo
Lau
Imagem: Miracle, by Pixdaus 

Saturday, November 5, 2016

" Não Há Vagas"

 Imagem com licença poética

O preço do feijão 
não cabe no poema. 
O preço do arroz 
não cabe no poema. 
Não cabem no poema o gás 
a luz o telefone 
a sonegação 
do leite 
da carne 
do açúcar 
do pão 

O funcionário público 
não cabe no poema 
com seu salário de fome 
sua vida fechada 
em arquivos. 
Como não cabe no poema 
o operário 
que esmerila seu dia de aço 
e carvão 
nas oficinas escuras 

- porque o poema,senhores, 
   está fechado: 
   "não há vagas" 

  O poema,senhores, 
   não fede 
   nem cheira 

(Ferreira Gullar,  in "Não Há Vagas" ) excerto


Escolhi Gullar em protesto às medidas "inconstitucionais" que foram anunciadas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro,(link)  Além de medidas desumanas, (link) ainda querem confiscar o salário do pobre coitado aposentado que percebe um salário pífio e ainda será obrigado a descontar 30% do que recebe.  
 "A humanidade,q é pouco sensível,não se angustia com o tempo, porque faz sempre tempo; não sente a chuva senão qdo não lhe cai em cima", diz Fernando Pessoa in  seu Livro do Desassossego.
Não me sinto enquadrada nessa humanidade que fica em cima do muro, faz uma média aqui, outra lá. 
Não  aos  covardes. Não aos maus políticos.Não aos governantes incompetentes.Não à tirania.Não ao Cinismo.Não à hipocrisia. Não aos "stalkers insistentes".
Não aos "pífios" (generalizando) .
Os fortes entenderão.


Para acompanhar a imagem, sonzinhos es-co-lhi-dos a de-dos .Lembro sempre de meu querido e saudoso pai  que citava Guevara, quando eu me rebelava : 
"Hay Que Endurecer, Pero Sin Perder La Ternura Jamás” . 

    Ei-los :)   
1-♫ 
2-♫ 
3-♫ 


 Desculpem a veemência.
Um beijo
Lau





Fonte: Ferreira Gullar -Antologia Poética 

Imagem  " Não Há Vagas"/ No Vacancies  com licença poética / captada na Web.