Imagens com direitos @utorais
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
Se partiste, não sei.
Porque estás,
tanto quanto sempre estiveste.
Essa tua,
tão nossa, presença
enche de sombra a casa
como se criasse,
dentro de nós,
uma outra casa.
No silêncio distraído
de uma varanda
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim
ecoam ainda os teus passos
feitos não para caminhar
mas para acariciar o chão.
Nessa varanda te sentas
nesse tão delicado modo de morrer
como se nos estivesse ensinando
um outro modo de viver.
Se o passo é tão celeste
a viagem não conta
Os lugares que buscaste
não têm geografia.
São vozes, são fontes,
rios sem vontade de mar,
tempo que escapa da eternidade.
Moras dentro,
sem deus nem adeus.
Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras,de recente data.
O senhor mesmo sabe,meu pai.
(Ao meu querido pai com a devida licença de
" Feliz noite do Dia dos Pais aos amigos leitores que passam por aqui".
Uma semana produtiva para todos.
Lau
Fontes: Carlos Drummond de Andrade em "Ausência", Mia Couto , em "Habitante" ,e João Guimarães Rosa em "Grande Sertão: Veredas"
@Todos os direitos reservados
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