Matisse com licença poética
É preciso fritar o arroz bastante antes de jogar água fervendo.
E não pode mexer jamais depois de a água ser posta.
O alho deve fritar no óleo junto com o arroz.
Coisas que eu sei e que não. Eu sei muitas coisas.
Faxina por exemplo. Sei limpar uma casa de tal modo
Que não sobra um canto que não tenha sido tocado
Por minhas mãos.
Depois vou sujando. Com muito gosto.
Deixo peças na sala e louças sujas na pia.
Não na mesma hora mas um pouco
Bastante depois volto limpando.
Assim me faço.
Nos objetos que me acompanham.
Gosto de andar nas ruas e comprar coisas
Que vão se arrumando em torno de mim.
Tenho muitas coisas, quero dizer, tenho muitas camadas.
Uma camada de livros outra de sapatos.
Tem a camada de plantas. E toalhas de rosto.
Tenho camadas de cosméticos e de adereços.
Uma camada de nomes e de coisas que vejo.
Tudo ordenado ao meu redor. Em forma de corpo.
Um corpo que me sustenta quando o meu próprio me falta.
Cadeiras são meus ossos. Sapatos são meus braços.
Torneiras em meus poros. Paredes como roupas de inverno.
(Quando toca música em minha casa sai do umbigo)
Descanso recostada nas paredes da casa
Que me guardam como um abraço.
Me abraço quando me derramo na sala.
E na cozinha.Em geral adormeço no quarto.
Tudo em minha casa tem existência.
Todas as coisas significo.
Com os olhos. Ou com as mãos.
Minha casa tem silêncios
Que ás vezes ouço. Em meu corpo
Tem silêncios maiores ainda.
Que às vezes ouço.
(excerto)
(Viviane Mosé) (link)
É preciso fritar o arroz bastante antes de jogar água fervendo.
E não pode mexer jamais depois de a água ser posta.
O alho deve fritar no óleo junto com o arroz.
Coisas que eu sei e que não. Eu sei muitas coisas.
Faxina por exemplo. Sei limpar uma casa de tal modo
Que não sobra um canto que não tenha sido tocado
Por minhas mãos.
Depois vou sujando. Com muito gosto.
Deixo peças na sala e louças sujas na pia.
Não na mesma hora mas um pouco
Bastante depois volto limpando.
Assim me faço.
Nos objetos que me acompanham.
Gosto de andar nas ruas e comprar coisas
Que vão se arrumando em torno de mim.
Tenho muitas coisas, quero dizer, tenho muitas camadas.
Uma camada de livros outra de sapatos.
Tem a camada de plantas. E toalhas de rosto.
Tenho camadas de cosméticos e de adereços.
Uma camada de nomes e de coisas que vejo.
Tudo ordenado ao meu redor. Em forma de corpo.
Um corpo que me sustenta quando o meu próprio me falta.
Cadeiras são meus ossos. Sapatos são meus braços.
Torneiras em meus poros. Paredes como roupas de inverno.
(Quando toca música em minha casa sai do umbigo)
Descanso recostada nas paredes da casa
Que me guardam como um abraço.
Me abraço quando me derramo na sala.
E na cozinha.Em geral adormeço no quarto.
Tudo em minha casa tem existência.
Todas as coisas significo.
Com os olhos. Ou com as mãos.
Minha casa tem silêncios
Que ás vezes ouço. Em meu corpo
Tem silêncios maiores ainda.
Que às vezes ouço.
(excerto)
(Viviane Mosé) (link)
(A todas as mulheres que,assim como eu,atam/desatam;
apegam/desapegam;encantam-se/desencantam-se;faxinam-se;amam/odeiam/;
choram /riem;arrumam-se/desarrumam-se;sonadas/insones; habitadas/desabitadas;calçadas/descalças;queimem/ou não o arroz;tenham a capacidade (ou não) de tocar a alguém,e que consigam "viver" seus burburinhos internos sem perturbar a vida de ninguém ...e não ter contas a prestar,idem).
Viver é etcétera,já dizia Guimarães Rosa.(link) Vivamos!!!
Bom fim de semana aos amigos que me leem.
Um beijo
Lau
Fonte:MOSÉ, Viviane. "Toda palavra". Rio de Janeiro, RJ: Editora Record, 2008.
apegam/desapegam;encantam-se/desencantam-se;faxinam-se;amam/odeiam/;
choram /riem;arrumam-se/desarrumam-se;sonadas/insones; habitadas/desabitadas;calçadas/descalças;queimem/ou não o arroz;tenham a capacidade (ou não) de tocar a alguém,e que consigam "viver" seus burburinhos internos sem perturbar a vida de ninguém ...e não ter contas a prestar,idem).
Viver é etcétera,já dizia Guimarães Rosa.(link) Vivamos!!!
Para quem mora na cidade maravilhosa,o Rio de Janeiro,deixo um dica cujo tema,"o estupro",está em pauta.É só clicar aqui.
[#eusoucontraaculturadoestupro.E não é só o físico,o visual também]
Um beijo
Lau
Recadinho:
Depois do post publicado,todo certinho,de repente,eis que surge incompleto.Tive que tirá-lo do ar-desculpem-e refazê-lo.
Ghosts??Quem sabe?
Qdo reclamo dessas surpresas desagradáveis,há quem não acredite.
Hã!!!!
L.M.
Ghosts??Quem sabe?
Qdo reclamo dessas surpresas desagradáveis,há quem não acredite.
Hã!!!!
L.M.
Fonte:MOSÉ, Viviane. "Toda palavra". Rio de Janeiro, RJ: Editora Record, 2008.
Lindo!!!!Você é muito engraçada,você não existe, não canso de dizer.Por que não escureceu as frases sobre fritar o arroz,lavar a louça?kkk
ReplyDeleteEu te conheço,Lau Milesi.Odeia cozinha.kkkkkkk Eu entendo tudo e você diz que não.Estou aprendendo a ver detalhes com você.
Bjosss,sogrinha poderosa.
Love You >3
rsrs Ah,meu Deus.Metáforas,menina.Mas acertou,gosto de colocar os pratos na máquina,e não na pia.Acho anti-higiênico pia com louça.Só gosto da água,rs da louça não.Irk!
DeleteNossa!Qtas metáforas!! :)
Beijos,princesa.
Amei a quiche.Merci.
Lau querida,que escolha magnífica!Muito bem composto esse poema.Gosto dos textos da Viviane.Me vi em muitas situações descritas.Vivo caindo pelas paredes ao final do dia,você sabe calcular o cansaço de quem tem dupla jornada e crianças energizadas por perto.
ReplyDeleteMas com todo o cansaço consigo fechar os olhos e sei que tudo que tenho no meu cantinho foi organizado por mim.
Adorei!!!A imagem é muito bonita.Maridão gosta muito de Matisse.
Os argumentos que você usou para a dedicatória emocionam.
Somos todas assim.Ainda bem,não é amiga?Somos potes de sentimentos.
Bjokas,minha linda.
Bom domingo.
Lu
Bom dia amiga,e já com pedido de desculpas.Seu anonymous levou seu comentário pra spam,não apareciam aquelas letrinhas vermelhas,não sabia q havia comentário.Sorry.Obrigada pelos elogios.Esse poema tá digitado desde o Dia Internacional da Mulher,mas não achei uma imagem q me agradasse,fui deixando no rascunho.Eu gosto da poesia da Viviane tb,acho feminina,simples e não é afetada.
DeleteSomos todas sentimentos sim,somos todos os cômodos de uma casa:da cozinha à porta da rua rs,momento q curto muito(amo a liberdade),embora haja dias em goste de ficar quietinha.
Hoje é o dia daqueles almoços em família em que mais se fala do q se almoça.Haja ♥ e voz.:)
Beijo,querida amiga.
Bom domingo.
Muito bom pontuar a existência da figura feminina através de um cotidiano poético.Gosto das suas escolhas,Lau.
ReplyDeleteOportuna a sugestão,se estiver na cidade na semana que vem assistirei a peça.
Abraço,
Dante
Obrigada por sua visita e seu generoso comentário.
DeleteBoa noite,Dante Servedelo.
Um abraço.
Lau,maravilhada com esse poema.
ReplyDelete"Tudo em minha casa tem existência.
Todas as coisas significo".
Você sabe que vi nessas palavras a sua casa?rs
Lembrei das suas coleções.E da sua varanda.
Nossas manias,nossos medos e sentimentos habitam todos os cômodos.
Achei lindo e vou copiar.
Carinho pra vc, aluna e amiga querida,
Cynthia.
Bom dia,teacher querida.
DeleteGostei muito do seu comentário e também que vc tenha me visto nessas palavras.
Sem falsa rs modéstia,significo muito mesmo na minha varanda.E aquilo foi feito por mim.Eu te envio o vídeo com o poema.Douie fez a escuta.
Beijos.Obrigada.
Carinho pra vc tb.
Me ha gustado mucho esta nueva entrada.
ReplyDeleteUn abrazo
Buenos dias,Concha Signes.
DeleteUna entrada para las mujeres fuertes que dominan sus vidas.
Gracias por su amable visita.
Besos,amiga.