Saturday, September 19, 2015

" Que todos os dias sejam dias do Amor..."


Que todos os dias sejam dias do Amor.

Se há o Dia dos Namorados,por que não haver o Dia dos Amorosos,o Dia dos Amadores.Dia dos Amantes Platônicos,que também são  exemplares  à sua maneira, e dizem até que mais?

Por que não instituir, ó psicólogos, ó sociólogos,ó lojistas e publicitários,o Dia do Amor?

O Dia de Fazê-lo,o Dia de Agradecer-lhe,o de Meditá-lo em tudo que encerra de mistério e grandeza,o Dia de Amá-lo? Pois o Amor se desperdiça ou é incompreendido até por aqueles que amam e não sabem, pobrezinhos, como é essencial amar o Amor.

E mais o Dia do Amor Tranquilo, o Dia do Amor Que Não Ousava Dizer o Seu Nome mas Agora Ousa.

Amor Complicado pede o seu Dia não para tornar-se pedestre,mas para requintar em sua complicação cheia de voos fora do horário e da visibilidade.

 Amor à Primeira Vista,o fulminante.

E há motivos de sobra para se estabelecer o Dia do Amor ao Próximo, e o Próximo somos nós, quando nos esquecemos de nós mesmos, abjurando o enfezadíssimo Amor-Próprio.

Depressa,amigos criadores de Dias,criai o do Amor Livre da discriminação racial e econômica,o que ri das divisões políticas, das crenças separatórias. Amor que nem a si mesmo se escraviza,na total doação que é converter-se no alvo, pois lá diz o que sabe: «Transforma-se o amador na coisa amada.»
Haja também um Dia para o Amor Não Correspondido.Pois todo Amor tem o seu ponto de luz,que às vezes se confunde com a sombra.

Ao amor Impossível.Ao Amor Imperfeito,síntese muito humana de tantos,retrato mal copiado do modelo divino, igualmente, se consagre um Dia generoso.

Amor à Glória não carece ter Dia, nem amor ao dinheiro e seu primo (ou irmão), amor  ao Poder. Eles se satisfazem, o primeiro com uma bolha de sabão, os outros dois com a mesa posta. Mas ao Amor faminto e sem talher, e ao que nenhuma iguaria lhe satisfaz, porque sua fome vai além dos alimentos e é a fome em si, a ansiosa procura do que não existe nem pode existir: um Dia para cada um.

E se mais Dias sobrarem, que sejam reservados para os Amores de que não me lembro no momento mas certamente existem, pois sendo o Amor infinito em sua finitude,isto é, fugindo ao tempo no tempo,e multiplicando-se em invençõe,sutilezas, desvarios, enigmas e tudo mais, sempre haverá um Amor novo no sujeito amante, dentro do Amor que nele pousou e que cada manhã nasce outra vez, de sorte que o mesmo Amor é cada dia Outro sem deixar de ser o Antigo, e são muitos outros concentrados e não compendiados na potencialidade de amar. 

Assim sendo, recomendo e requeiro e decreto que todos os dias do ano sejam Dias do Amor,e não mais disso ou daquilo,como erradamente se convencionou e precisa ser corrigido.

Tenho dito.Cumpra-se.

( Carlos Drummond de Andrade na Crônica "Um dia,um amor")





Disclaimer

 Num mundo onde prolifera o "hate speech",os "haters",os "trolls", os "stalkers"... muitos acobertados pela condição de suposto anonimato, justamente quando  acontece  a maioria  dessas ações covardes, além das  dissimuladas e "veladas"... nada melhor do que lembrar a importância do amor nas palavrinhas do meu parceiro querido,
Carlos Drummond de Andrade,(link) o mais influente poeta brasileiro do século XX.



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                                                             (eu fui ao rock in rio de 1985)



                    Bom domingo aos amigos que me leem 
          e deixam seus comentários.

[lau] 



Imagem  © by Megan van der

Fonte: Do livro "O Poder Ultrajovem", de Carlos Drummond de Andrade.Companhia Das Letras. pág 87