– Não somos muito diferentes – diz Drácula.
– Somos completamente diferentes! – rebate Batman. – Eu sou o Bem, você é o Mal. Eu salvava as pessoas, você chupava o seu sangue e as transformava em vampiros como você. Somos opostos.
– E no entanto – volta Drácula com um sorriso, mostrando os caninos de fantasia – somos, os dois, homens-morcegos...
Batman come o resto do seu iogurte sob o olhar cobiçoso do conde.
– A diferença é que eu escolhi o morcego como modelo.Foi uma decisão artística, estética, autônoma.
– E estranha – diz Drácula. – Por que morcego? Eu tenho a desculpa de que não foi uma escolha, foi uma danação genética. Mas você? Por que o morcego e não, por exemplo, o cordeiro, símbolo do Bem? Talvez o que motivasse você fosse uma compulsão igual à minha, disfarçada. Durante todo o tempo em que combatia o Mal e fazia o Bem, seu desejo secreto era de chupar pescoços. Sua sede não era de justiça, era de sangue. Desconfie dos paladinos, eles também querem sangue.-
Se eu ainda pudesse fazer um punho você ia ver qual é a minha compulsão neste momento - rosna Batman.
Se eu ainda pudesse fazer um punho você ia ver qual é a minha compulsão neste momento - rosna Batman.
Mas Drácula não perde a calma.
- E veja a ironia, Batman.O Morcego Bom passa, o Morcego Mau fica.Um não quer morrer e morre, o outro quer morrer e não morre. Ou talvez não seja uma ironia, seja uma metáfora para o mundo.
"O Bem acaba sem recompensa e o único castigo do Mal é nunca acabar."
(Luiz Fernando Verísimo em Diálogos Impossíveis) ( fragmento)
Para acompanhar esse genial conto de Veríssimo,outro gênio ....do bem interminável e de uma voz lin-dís-si-ma.
É só clicar aqui.
Um beijo para os meus amigos.
Lau
Fonte" Diálogos Impossíveis", Luiz Fernando Veríssimo, Editora Objetiva, pág.77.
Imagem via Frederic Halle
É só clicar aqui.
Um beijo para os meus amigos.
Lau
Fonte" Diálogos Impossíveis", Luiz Fernando Veríssimo, Editora Objetiva, pág.77.
Imagem via Frederic Halle