Chegou ao palácio e disse que queria tomar posse
- Posse de quê, perguntaram-lhe.
- De tudo. De qualquer coisa. Eu quero é tomar posse
- Todos os cargos estão ocupados. O senhor chegou tarde.
- Atrasei-me por causa da greve dos alfaiates, pois eu não podia tomar posse com uma roupa qualquer. Agora estou convenientemente trajado e venho empossar-me.
Já lhe dissemos que não há nenhum posto vago. Não só foram todos preenchidos como há uma relação de 250 mil maspirantes a substituir algum dos titulares que eventualmente se afasta por motivo de reumatismo ou esclerose cerebral.
Posso inscrever-me como 250 mil e um aspirante.Talvez sobrevenha um terremoto e eu, se der sorte, passarei ao primeiro lugar e finalmente me darão posse.
-Nunca.Todos os terremotos foram previstos, todas as inundações etc.Escapará muita gente e haverá no máximo vinte substituições em nossos quadros.Portanto,o senhor jamais será aproveitado.Venda o seu terno escuro e passe muito bem.
Voltou pra casa e, à falta de outra coisa, tomou posse de si mesmo.
(Carlos Drummond de Andrade, o Grande, link(meu parceiro de fé).
Disclaimer
A gosto. :) rs À escolha.
À opção , experiência de cada um dos @migos que me visitam.
Lado a lado com Drummond, hoje, Muddy Waters (link).
Show !, para quem aprecia esse ritmo: "blues".
Uma boa semana para os amigos
que passam por aqui.
Um beijo
Lau
Imagem by Bro Inside Soulart
Fonte: Carlos Drummond de Andrade in Contos Plausíveis, pág.163 -Editora Record.