“Eu , se fosse governo, subia num tamborete, batia palmas e gritava bem alto para todo mundo escutar: cala a boca, gente, escuta aqui. Obrigava todo mundo a ficar quieto primeiro e explicava o meu plano administrativo.
Governo não é Deus, muito pelo contrário, é o tipo de coisa que precisa de ajuda. Não ia fazer nada sozinho, que eu não sou bobo. Escolhia pra meus ajudantes só gente que tivesse duas coisinhas: honestidade e competência.
Feito isto, falava pra eles: faz um levantamento do nosso país, aí, isto, varre a casa primeiro. Depois conferia numa assembléia, que não ia ter recesso enquanto não me dessem, por escrito, quantos meninos sem escola, quanto pai de família sem emprego, quanto homem e mulher que fosse amarelo, feio, sem dente, sem saúde, sem alegria”.
"...Sei que sofrimento neste mundo é fazenda de todos, mas tendo Justiça, meu Deus, ao menos miséria some, ao menos ninguém vai ter susto de ser preso à toa, de apanhar sem poder dizer essa boca é minha, explicar, de pé feito homem, se tem culpa ou não. Culpa eu tenho demais. E medo".
(PRADO, Adélia. Prosa Reunida. 2ª edição, São Paulo: Siciliano, 2001, pp 62-64).
Minha homenagem à cantora folk argentina Mercedes Sosa, que virou estrelinha ontem. Mercedes lutou contra as ditaduras fascistas na América do Sul com a sua potente voz e se tornou numa lenda da música latino-americana.
Carinhosamente apelidada de La Negra - devido ao seu cabelo preto e à tez morena - Sosa foi igualmente chamada de “voz de uma maioria silenciosa”, tendo sempre lutado pelos direitos dos mais pobres e pela liberdade política. Que sua luta não tenha sido em vão.
Descanse em paz, Mercedes.
Ilustração: imagem capturada na Internet: "deluca.blogspot.com"
Lau Milesi